Dados do Trabalho

Título

SÍNDROME DA ENDOMETRIOSE TORÁCICA COM PNEUMOTÓRAX: SERIA O CICLO MENSTRUAL O PONTO CHAVE DO DIAGNÓSTICO?

Descrição do caso

Justificativa da relevância: Diagnóstico diferencial de pneumotórax espontâneo deve ser pautado numa anamnese detalhada, mas em alguns casos só pode ser confirmado com cirurgias.
História da doença atual e pregressa: Paciente do sexo feminino de 39 anos foi encaminhada com história de pneumotórax espontâneos de repetição durante 6 anos. Em um dos episódios foi realizada drenagem pleural com melhora completa. Há 3 anos, ocorreram mais cinco episódios, todos à direita, e sempre associados ao ciclo menstrual. Durante os episódios, paciente refere dispneia concomitante com dor em pontada no hemitórax direito. O tratamento escolhido em outros serviços foi conservador, sem cirurgias. Possui histórico de endometriose sem acompanhamento constante com ginecologista. Atualmente está assintomática.
Exame físico: Bom estado geral, sem alterações nos sinais vitais. Murmúrios vesiculares presentes e sem ruídos adventícios.
Exames complementares: A tomografia computadorizada de tórax não mostrava bolhas, blebs ou alterações pulmonares. Ainda assim, a dúvida diagnóstica persistia e pelo risco de novo episódio foi indicada cirurgia.
Evolução: A paciente foi submetida à Cirurgia com Vídeo com hipótese diagnóstica de pneumotórax catamenial. Durante o inventário da cavidade não foram visibilizadas bolhas ou outras alterações, mas uma pequena quantidade de líquido sanguinolento e múltiplos implantes avermelhados na área anterior do diafragma, de formato concêntrico. Esse segmento do diafragma foi ressecado e suturado, em seguida foi realizada pleurectomia parietal para pleurodese. O exame anatomopatológico mostrou células correspondentes ao estroma endometrial no fragmento de diafragma ressecado. A doente teve uma boa evolução sem recidivas do pneumotórax, sendo encaminhada à ginecologia para tratamento da endometriose.
Diagnóstico: Pneumotórax catamenial.
Discussão: Pneumotórax catamenial deve ser uma hipótese diagnóstica para as pacientes em idade fértil com pneumotórax espontâneo de repetição. É descrito que atinge mulheres predominantemente entre 17 a 45 anos, com maior prevalência a partir da terceira década. A fisiopatologia dessa síndrome ainda não é totalmente conhecida, mas acredita-se que através das tubas uterinas, o ar e o tecido endometrial ectópico alcancem o peritônio e, posteriormente, o espaço pleural através das fenestrações diafragmáticas. Com isso, o endométrio ectópico pode levar a perfuração do tecido em que ele está aderido, inclusive diafragma e pulmão.
Neste relato, a paciente tinha uma história de 6 anos de pneumotórax espontâneo de repetição sem investigação e tratamento. Apesar do diagnóstico definitivo do pneumotórax catamenial ser através da cirurgia com confirmação anatomopatológica, é de extrema importância uma análise completa da história clínica. Neste caso, havia uma correlação temporal dos sintomas com o ciclo menstrual, além do diagnóstico prévio de endometriose.