Dados do Trabalho


Título

FENOMENO DOS DOIS COMPARTIMENTOS NA ESPIROMETRIA POR BRONQUIOLITE CONSTRICTIVA

Descrição do caso

Justificativa: Demostrar uma causa do “fenômeno de dois compartimentos” visto nos exames de espirometria, ainda não relatado na literatura.

Relato de caso:
Masculino, 67 anos, refere tosse seca e dispneia progressiva há 03 anos, atualmente aos mínimos esforços (mMRC 4). Ex-tabagista há 10 anos (2,5 maços-ano). Duas internações prévias por piora da dispneia e tosse. Recebeu diagnóstico de DPOC em serviço anterior e em primeira consulta estava em uso de formoterol + budesonida 12/400mcg + glicopirrônio 50mcg e de oxigenoterapia domiciliar, sem melhora.
Trabalhou na indústria metalúrgica por mais de 30 anos como operador de máquinas na produção de motor de ônibus e caminhão em contato com fluidos metálicos, sem uso de equipamento de proteção individual.
Ao exame físico: emagrecido, dispneico em uso de cateter nasal de oxigênio a 2l/min. Na ausculta pulmonar, estertores finos em bases pulmonares e SpO2 90% em ar ambiente.
A TCAR demostrou extensas áreas de aprisionamento aéreo (mosaico) com discretas bronquiectasias mais centrais. Áreas sugestivas de vidro fosco correspondendo, na verdade, ao parênquima normal contrastado com as grandes áreas escuras pelo aprisionamento aéreo. O exame de função pulmonar revelou distúrbio ventilatório obstrutivo moderado com redução da capacidade vital forçada, com a curva fluxo-volume sugerindo o “fenômeno de dois compartimentos”. Na pletismografia apresentava hiperinsuflação pulmonar (CPT - 132%) e aprisionamento aéreo (VR – 268%) e resistência das vias aéreas aumentada. O ecocardiograma mostrava disfunção diastólica leve, sem sinais de hipertensão pulmonar. Apresenta ainda provas reumatológicas negativas e imunoglobulinas normais.

Diante do exposto foi feito o diagnóstico de bronquiolite constrictiva secundária a possível pneumonite de hipersensibilidade por fluido metálico. Pela gravidade do caso, não foi possível avançar na propedêutica. No seguimento foi otimizado a broncodilatação e adicionado azitromicina contínua como imunomodulador. Paciente vem mantendo-se estável com dispneia mMRC4, com melhora parcial da tosse e sem novos episódios de exacerbações.

Discussão: O fenômeno de dois compartimentos na espirometria é observado na curva fluxo-volume, por um padrão bifásico, no qual o fluxo expiratório e/ou inspiratório é diminuído, seguido por uma diminuição ainda mais rápida, resultando em uma cauda expiratória ou inspiratória final achatada. Esse fenômeno é bem conhecido em pacientes enfisematosos receptores de transplante pulmonar único decorrente do ponto de estrangulamento da via aérea nesses pacientes que causa limitação ao fluxo de ar. Outras causas definidas é quando há obstrução unilateral de um brônquio principal resultante de processos patológicos. Este é um caso raro de bronquiolite constritiva secundária a possível pneumonite de hipersensibilidade por fluidos metálicos levando alteração de esvaziamento pulmonar em dois compartimentos na espirometria.

Área

Função Pulmonar

Instituições

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SAO PAULO - São Paulo - Brasil

Autores

LUCCAS FERNANDES QUEIROZ, ELOARA VIEIRA MACHADO FERREIRA, MARIA RAQUEL SOARES, CARLOS ALBERTO DE CASTRO PEREIRA