Dados do Trabalho

Título

PLACAS PLEURAIS -UM IMPORTANTE DIAGNOSTICO DIFERENCIAL DA AUSENCIA DE DESLIZAMENTO PLEURAL

Descrição do caso

As placas pleurais são lesões densas localizadas na pleura parietal que fazem parte do espectro das doenças pulmonares asbesto-relacionadas. Carecem dados na literatura a respeito dos seus achados ultrassonográficos, devendo ser considerado diagnóstico diferencial na ausência de deslizamento pleural. Relatamos o caso de um paciente avaliado no pronto atendimento com dispneia, cuja ultrassonografia pulmonar deve levar à suspeição diagnóstica de placas pleurais.

Caso Clínico:
Masculino, 53 anos, ex-tabagista 25 anos/maço, eletricista há mais de 20 anos, com antecedente de tuberculose pleuropulmonar tratada por 6 meses em 2022, persistindo com fístula broncopleurocutânea esquerda de aspecto sequelar. Deu entrada no pronto atendimento com queixa de dispneia há 10 dias e tosse produtiva. Ao exame físico, saturação de 93% em ar ambiente, redução de murmúrio vesicular à esquerda, pressão arterial média de 60 mmHg e frequência cardíaca de 110 bpm. Ultrassonografia pulmonar à beira leito evidenciou em hemitórax direito com ausência de deslizamento pleural em áreas focais das zonas médio-inferiores laterais, associadas a imagens irregulares com margem hiperecogênicas anterior na pleura parietal e sem alterações das zonas ântero superiores. Já no hemitórax esquerdo, havia ausência total de deslizamento. Diante da dúvida em relação aos achados, realizada tomografia de tórax com visualização de placas pleurais calcificadas bilaterais e sinais de hidropneumotórax com espessamento pleural difuso à esquerda. Sendo a descompensação hemodinâmica atribuída a quadro infeccioso à esquerda.

Discussão:
A ultrassonografia à beira leito tem ganhado importância nas últimas duas décadas, particularmente a insonação pulmonar no contexto de emergência. Um dos sinais chave na avaliação do pulmão é a identificação do deslizamento pleural, que corresponde ao movimento sincronizado da pleura visceral sobre a pleural parietal durante a respiração. A ausência de deslizamento deve ser interpretada com cautela, pois é importante marcador para avaliação de pneumotórax, mas pode estar evidente em processos pleurais sequelares e presença de placas pleurais.
As placas pleurais são lesões fibróticas densas relativamente acelulares compostas por fibras colágenas. As placas não-calcificadas ocorrem em 85-95% dos casos e são caracterizadas por imagem hipoecóica elíptica de contornos definidos localizadas na pleura parietal. Já as calcificadas, cursam com imagem de margem hiperecogênica anterior de contornos irregulares e sombra acústica posterior. A presença de placas pode impedir ou reduzir o deslizamento pleural.
No caso relatado, a queixa de dispneia aguda e a presença de hipotensão levou à pronta realização da ultrassonografia à beira leito com achados que inicialmente poderiam ser interpretados como pneumotórax hipertensivo. Porém, a exposição ocupacional compatível, somado à imagem suspeita para placas pleurais e ao antecedente de sequela de tuberculose levou à revisão diagnóstica.